De repente, me dei conta que faz sete meses agora que estou sustentando com o dinheiro que estou investindo nessa obra umas dez famílias, algumas das quais têm três ou mais membros trabalhando conosco, ou se revezando para manter suas atividades (familiares, comerciais, ou agrícolas) e ao mesmo tempo contribuir à obra. Tem meninos que ajudam os adultos antes ou depois das aulas, às quais fazemos questão que não faltem (Katia, como educadora, é ferrenha a respeito, e não perde ocasião para doutrinar meninos e pais sobre a importância de estudar).
Temos algumas famílias do Mandira, a comunidade vizinha, de descendentes de quilombolas, que fica a cinco quilômetros da pousada. Depois de ter passado a vida toda como free-lance autônomo, ou como funcionário de uma empresa, é algo bem diferente e complexo estar dando trabalho, de forma bastante continuativa, para tanta gente, ser visto como a fonte de dinheiro e sustento. E com o tipo de empreitada que escolhemos, vai continuar sendo assim nos próximos anos, ainda que com menos gente. É um pouco como a responsabilidade abrangente, quase angustiante, que sentimos quando passamos de solteiro a ter família, ou aquela cósmica e eterna, quando nasce um filho. Com a diferença que o relacionamento se estende a pessoas – como posso dizer – externas, fora do nosso alcance, só relativamente escolhidas.